A genética moderna conferiu aos seres humanos um grande poder
sobre a hereditariedade, trazendo técnicas para conhecer os genes das espécies
vegetais e animais, para decifrar as mensagens químicas cifradas das moléculas
gênicas e até para modificar genótipos individuais.
A biologia molecular, descobrindo a origem da vida, abalou os
alicerces dos mitos, das religiões, da sabedoria tradicional e dos valores
humanos.
A responsabilidade moral e os limites do conhecimento
genético contemporâneo
Os conhecimentos desenvolvidos nessa área do saber, ainda que
imensos e cientificamente revolucionários, são ainda muito pequenos e incertos.
No entanto, precipitadamente, já têm propiciado ações sobre espécies vegetais e
animais e sobre o homem, sem que se possa prever os efeitos futuros dessas
intervenções. O chamado caso da “doença da bolha” pode servir de exemplo aqui.
Os que sofrem dessa doença possuem graves problemas imunológicos, isto é, seu
organismo não produz glóbulos brancos que sirvam de anticorpos que o proteja de
agressões do meio ambiente. Para conservar em vida essas pessoas, elas são
confinadas desde o nascimento em ambientes de assepsia perfeita e completa (a
“bolha”) e não entram em contato direto com nenhuma outra forma de vida, nem mesmo
humana. Tem sido considerado um sucesso um experimento genético realizado para
alterar as células das crianças nascidas com esse terrível problema, de maneira
que possam fabricar os glóbulos brancos ou leucócitos e levar uma vida normal.
Infelizmente, algumas dessas crianças agora estão morrendo pelo problema
contrário, isto é, por leucemia ou fabricação excessiva de leucócitos.
Os cientistas que pretendem sequenciar o genoma humano
acreditam chegar a um conhecimento que nos livre de dores e sofrimentos, cure
doenças, prolongue a juventude e adie a morte, graças ao aperfeiçoamento da
própria espécie humana com o controle sobre a hereditariedade.
Um dos problemas éticos mais graves trazidos pela genética
encontra-se na chamada “sondagem gênica”, por meio da qual se pretende
detectar, por exemplo, pessoas que teriam genes que as predisporiam para a
criminalidade ou as que teriam genes que as predisporiam para certas doenças
ligadas a certos tipos de trabalho.
Um segundo problema, derivado do anterior, é trazido pela
chamada “terapia gênica germinal”, isto é, que intervém em células humanas da
reprodução ou células germinais com a finalidade de curar doenças genéticas ou
corrigir “defeitos genéticos”.
Problema científico: a intervenção sobre células reprodutoras
para curar doenças genéticas não pode ser feita sem que se tenha uma clara e
perfeita definição do que é a doença. Ora, a genética ainda não possui essa
definição.
Problema moral: O da eugenia, isto é, a velha ideia de
“pureza da raça” ou de purificação da espécie, em nome da qual não só seriam
feitas intervenções e modificações nas células reprodutoras, mas também se
justificaria a eliminação dos “impuros” ou dos “inferiores” ou dos
“defeituosos”.