A consciência
pode conhecer tudo?
O inconsciente
Freud escreveu que, no
transcorrer da modernidade, os humanos foram feridos três vezes e que as
feridas atingiram o nosso narcisismo, isto é, a bela imagem que
possuíamos de nós mesmos como seres conscientes racionais e com a qual, durante
séculos, estivemos encantados.
- A primeira foi
a que nos infligiu Copérnico, ao provar que a Terra não estava no centro do
Universo e que os homens não eram o centro do mundo.
- A segunda foi
causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de um primata, que são
apenas um elo na evolução das espécies e não seres especiais, criados por Deus
para dominar a Natureza.
- A terceira foi
causada por Freud com a psicanálise, ao mostrar que a consciência é a menor
parte e a mais fraca de nossa vida psíquica.
A psicanálise
- Hipnose à Técnica de
associação livre
- Freud descobriu, finalmente, que os sintomas
histéricos tinham três finalidades:
•
contar
indiretamente aos outros e a si mesma os sentimentos inconscientes;
•
punir-se
por ter tais sentimentos;
•
realizar,
pela doença e pelo sofrimento, um desejo inconsciente intolerável.
Porque os
pacientes sentiam-se interiormente ameaçados por alguma coisa dolorosa e
temida, algo que haviam penosamente esquecido e que não suportavam lembrar.
Freud descobriu, assim, que o esquecimento consciente operava simultaneamente
de duas maneiras:
•
como resistência à terapia;
•
sob a forma da doença psíquica, pois o inconsciente
não esquece e obriga o esquecido a reaparecer sob a forma dos sintomas da
neurose e da psicose.
A
alienação social
A alienação é o
fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência
a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se
governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si mesma, não se
reconhecem na obra que criaram, fazendo-a um ser-outro, separado dos homens,
superior a eles e com poder sobre eles.
-
Para
compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o modo como as sociedades são
produzidas historicamente pela práxis dos seres humanos.
As três formas da alienação
social
1)
A
alienação social, na qual os humanos não se reconhecem como produtores das
instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam
passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional,
ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e
inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos,
a sociedade é o outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente
de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós.
2)
A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores,
nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho.
3)
A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material
(que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão
social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho
material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades
manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos
conhecimentos.
A
ideologia
A
função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e
políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os
seres humanos.
A
produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as
classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais,
normais, corretas, justas, sem pretender transforma-las ou conhece-las realmente,
sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em
que vivemos e as idéias.
Os
procedimentos da ideologia
Em
primeiro lugar, opera por inversão, isto é, coloca os efeitos no lugar das
causas e transforma estas últimas em efeitos. Ela opera como o inconsciente:
este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica idéias e falsas causalidades.
A
segunda maneira de operar da ideologia é a produção do imaginário social,
através da imaginação reprodutora. Recolhendo as imagens diretas e imediatas da
experiência social (isto é, do modo como vivemos as relações sociais), a
ideologia as reproduz, mas transformando-as num conjunto coerente, lógico e
sistemático de idéias que funcionam em dois registros: como representações da
realidade (sistema explicativo ou teórico) e como normas e regras de conduta e
comportamento (sistema prescritivo de normas e valores).
Enfim,
uma terceira maneira de operação da ideologia é o silêncio. Um imaginário
social se parece com uma frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque,
se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-ia incoerente e
contraditória e ninguém acreditaria nela.
Ideologia
e inconsciente
1.
o
fato de que adotamos crenças, opiniões, idéias sem saber de onde vieram, sem
pensar em suas causas e motivos, sem avaliar se são ou não coerentes e
verdadeiras;
2.
ideologia
e inconsciente operam através do imaginário (as representações e regras saídas
da experiência imediata) e do silêncio, realizando-se indiretamente perante a
consciência.
3.
inconsciente
e ideologia não são deliberações voluntárias. O inconsciente precisa de
imagens, substitutos, sonhos, lapsos, atos falhos, sintomas, sublimação para
manifestar-se e, ao mesmo tempo, esconder-se da consciência.